Arruma tuas malas e vá embora

-Como assim?
-Pega essa trocha, umas cuecas e vai, sai, descobre esse mundo
-Tenho medo
-Te juro, o mundo te teme muito mais
-Tá, mas nem sei para onde ir
-Apenas vá, toma um norte e segue
-E se eu me perder?
-Alguém te acha, perdido tu já está aqui dentro
-E o que vou fazer?
-Sei lá, vá descobrir, aqui já conhece de quase tudo, aqui tua vida passa e nem ve, sua vida virou rotina aqui
-Então eu vou
-Ótimo, pegue essa trocha de roupas, segue a direção do primeiro sopro de ar que te pegar, vai lá e descubra, vá ver o que toda essa terra tem para te mostrar.
-Algum aviso?
-Se olhar para casa terá saudades, e vai querer voltar, se por acaso olhar para traz resista a tentação, não há corrente ou corda que te segure aqui
-Você já fez isso?
-Sim, vá, fique tranquilo
-Mas quero você comigo, não quero ir sozinho
-Um dia não estarei aqui, talvez estarei lá no céu, e mesmo se eu fosse com você a sua vida inteira esse momento, de partida minha, chegaria.
-Entendo
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Adormeci e acordei no dia seguinte, eis que olho para os lados e vejo que não há nada de conhecido, era algo novo. Vi que aquela não era mais minha casa, minha cidade, aqueles que estavam a minha volta não me eram amigos, conhecidos ou parentes, eram pessoas sem identidade. Então me vi que eu era mais um entre eles, mas ao mesmo tempo, eles para eles mesmos eram conhecidos, deveriam ter muitos ali.
Quando dei por mim meus pés já não tocavam mais o chão, sobre minha cabeça as nuvens passavam, rapidamente, aquele momento não tinha mais volta, estava em uma estrada de uma unica direção, em que só céu me guiaria. Pensei e me acalmei, me animei, quantas coisas novas descobriria nesse novo lugar, que estradas poderiam aparecer, eu não sei, e nem quero, que sempre me traga uma novidade, me programar me deixava tão preso, e agora estou aqui, ali na frente, querendo chegar a encontrar, o exato lugar de onde os céus e o mar se encontram, logo ali, no longe do horizonte.